Perto de completar seis meses de pandemia, novas descobertas estão sendo realizadas em torno do Sars-CoV-2, coronavírus causador da Covid-19 que já acometeu mais de 4 milhões de brasileiros. Dentre os avanços registrados, estão a importância da atuação multidisciplinar e de tratamentos práticos que auxiliam no processo de reabilitação dos pacientes que evoluem para quadros mais graves da doença. Outro fator cada vez mais estudado são as sequelas na alta pós-internação. Evidências apontam que o processo de reabilitação também é fundamental após a cura.
Um dos tratamentos essenciais para a reabilitação nas duas fases é a Fisioterapia Respiratória, capaz de atenuar os sintomas ocasionados pela Covid-19. No dia em que se celebra o Dia Mundial da Fisioterapia, trazemos a experiência de duas fisioterapeutas que trabalham na linha de frente e explicam como esta modalidade terapêutica pode contribuir para a recuperação destes pacientes no processo de internação e após a alta.
Fisioterapia acelera o processo de recuperação de pacientes internados
De acordo com Caroline Guerreiro, tutora da residência multiprofissional do Hospital Geral Roberto Santos e professora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário UniFTC de Salvador, a internação pode levar a alterações funcionais que comprometem a independência do paciente e a retomada das suas atividades após a alta hospitalar. Neste caso, a atuação do Fisioterapeuta contribui para evitar complicações cardiorrespiratórias e para recuperar a capacidade pulmonar e física comprometidas.
Ela explica que, em pessoas com Covid-19, essas alterações têm levado a complicações mais severas e a Fisioterapia pode acelerar o processo de recuperação do paciente, reduzindo a necessidade de medicamentos, procedimentos invasivos e o risco de sequelas após a internação. “A Fisioterapia utiliza exercícios respiratórios e instrumentos para auxiliar na eliminação de secreções pulmonares e fortalecer os músculos respiratórios, além de realizar exercícios com ou sem carga para fortalecer os músculos periféricos, facilitando a mobilidade e a retomada das atividades”, detalha.
Na fase aguda, o trabalho do Fisioterapeuta começa com os primeiros cuidados na internação, principalmente na UTI. O especialista conduz desde a administração de oxigênio, passando pela assistência em intervenções envolvendo intubação, adequação dos parâmetros na ventilação mecânica invasiva e manejo da ventilação mecânica não-invasiva, uso de técnicas para remoção de secreção brônquica e expansão pulmonar para melhorar a função respiratória, entre outros. “O plano de reabilitação é definido diante de uma criteriosa e contínua avaliação funcional e da verificação e análise dos resultados das condutas propostas”, explica.
Importância do tratamento fisioterapêutico após alta
A também Fisioterapeuta e professora do curso de Fisioterapia da UniFTC Salvador, Naiara Pimentel, lembra que ainda não se sabe quais são as reais consequências do acometimento pela Covid-19. “Os pacientes que possuem sintomas leves ou assintomáticos normalmente levam uma vida sem impactos funcionais. Entretanto, os pacientes que são diagnosticados nas Unidades de Atenção Primária à Saúde com sintomas gripais graves, e que necessitam de encaminhamento para a UTI, podem manifestar algumas consequências funcionais ao acometimento do vírus”, explica a especialista que atua na área de Saúde Coletiva.
Após a alta hospitalar, esses pacientes podem apresentar repercussões da agressão ao pulmão, principal órgão atingido pela doença. Segundo a professora, isso ocorre devido às cicatrizes e fibroses geradas. “Alguns pacientes podem ainda apresentar sensação de falta de ar, dificuldade de voltar à prática de exercícios físicos e dificuldade de realizar Atividades de Vida Diárias (AVDs)”.
Ao retornar ao seu ambiente domiciliar após a alta, o paciente é acompanhado pela Unidade de Saúde da Família (USF) mais próxima. Neste caso, o Fisioterapeuta com toda equipe realiza a avaliação, intervém e orienta de acordo com a necessidade de cada um. “É importante ressaltar que os pacientes podem ter alterações funcionais diferentes, desta maneira, as condutas não são replicáveis a todos os pacientes que tiveram a Covid-19”, atenta.
Ainda segundo a especialista, normalmente pessoas idosas necessitam de um maior cuidado e vigilância devido às alterações típicas da idade. “Assim, a fraqueza muscular provocada pelo tempo de internamento, a presença de doenças pré-existentes como hipertensão, diabetes, neoplasias ou doenças cardiovasculares, podem gerar um comprometimento funcional maior exigindo um acompanhamento fisioterapêutico de perto”, afirma.
Ela destaca que, apesar de não se conhecer a fundo as repercussões após o acometimento desta doença, devido à diversidade das suas complicações, é sabido do papel essencial da Fisioterapia dentro desta nova realidade que o mundo vive. “O Fisioterapeuta atua desde o acolhimento aos indivíduos com as suspeitas diagnósticas da Covid-19, seu tratamento no ambiente hospitalar, até o acompanhamento do retorno dos indivíduos devidamente notificados e acompanhados pelas equipes que atuam na Atenção Primária à Saúde, reabilitando-os para o retorno das suas atividades funcionais”, conclui Naiara Pimentel.