por Danillo Tourinho Sancho-Silva*
O mundo pós-pandêmico começou a ser desenhado. De um lado, o mundo digital se aproxima do cotidiano da vida e das empresas trazendo diversos benefícios, tais como sistemas de gestão, menores custos operacionais e administrativos e novas formas de atender ao mercado. Por outro lado, o mundo do contato humano, das relações interpessoais e da comunicação procura seu espaço resistindo às atrações tecnológicas. A junção destes mundos produz um solo fértil para a criatividade e inovação, visto que a tecnologia abre portas, através de sua acessibilidade, à diversidade de cores do pensamento e da crítica. Nunca o ser humano questionou tanto o meio em que vive e esse hábito produz indivíduos que pensam “fora da caixa”. Entretanto, os dilemas sociais tangenciados nos debates atuais emergem diante do distanciamento econômico que a humanidade enfrenta, que, muitas vezes, é bem mais difícil do que o distanciamento social, tão apontado durante a pandemia.
Segundo Filionar (2004), o intraempreendedorismo é o processo pelo qual pessoas que trabalham dentro de uma empresa produzem algo novo e inovador capaz de gerar riqueza para indivíduos e agregar valor para a sociedade. Assim, o intraempreendedorismo é o ato de empreender dentro das empresas realizado por colaboradores capazes de questionar o que já existe trazendo inovações para os processos internos. Entretanto, o espaço do intraempreendedorismo, para existir, precisa de uma abertura para o exercício da liberdade. O espaço privado do qual a empresa faz parte, fruto da propriedade privada, é constituído, essencialmente, por uma estrutura de poder hierárquico que objetiva a manutenção da ordem e execução das estratégias decididas pela Alta Direção. Essa estrutura, a depender do posicionamento das lideranças, pode ou não proporcionar a liberdade necessária para o desenvolvimento do intraempreendedorismo. Em função do baixo nível de autoridade e autonomia, o locus, no qual a empresa desenvolve seus processos, não permite, em sua essência, o desenvolvimento natural do intraempreendedorismo.
Diante de um mercado tão competitivo, trazer os colaboradores, que também são parte interessada no sucesso da empresa, para o processo criativo pode gerar resultados promissores. O mundo digital trouxe algo inédito para a humanidade: o acesso livre e praticamente gratuito ao conhecimento. Sites e aplicativos móveis disponíveis nas mãos das pessoas, se usados adequadamente, podem gerar ideias através do acesso ao conhecimento. Tal elemento associado a um ambiente propício à liberdade de expor ideias, tornam do intraempreendedorismo uma forte arma para a sustentabilidade da empresa. Talvez, antes da pandemia, o intraempreendedorismo pudesse ser visto como um diferencial, mas, na fusão entre o digital e o analógico promovido pelas tecnologias móveis, o desenvolvimento de ideias se torna uma necessidade para a sobrevivência diante de um mercado, ainda atordoado pelo impacto da pandemia, mas ávido por novidades.
As empresas que irão sobreviver às próximas crises não serão aquelas que possuem um empreendedor virtuoso e capaz de se adaptar. Essa imagem de um dono cheio de superpoderes ficou para trás. A maior inteligência emerge do coletivo que, associando cada talento individual, produz novas ideias para sobrepor a concorrência e agregar valor. Mas, para isso, será preciso que os donos renunciem a uma parcela de poder e crie espaço para o intraempreendedorismo emergir. As empresas do século XXI serão aquelas que, com uma equipe engajada e comprometida e um ambiente aberto para a criatividade e para liberdade, sejam capazes de se reinventar interna e externamente.
*Danilo Tourinho é doutorando em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e possui graduação em Administração de Empresas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). É também professor e pesquisador do Centro Universitário UniIFTC de Feira de Santana.